Homenagem a Dinis Miranda

A luta necessária <br>e o ideal libertador dos comunistas

«Não sou cobarde e coloco acima de tudo a minha dignidade e fidelidade ao meu Partido. Jamais, sejam quais forem as torturas a que for submetido, seja qual for a pena a que este tribunal me condene, trairei o meu Partido, o Partido Comunista Português, vanguarda da classe operária.»

«Devemos seguir o seu exemplo combativo e de modéstia e dedicação»

Foi com estas corajosas palavras que, passando de acusado a acusador como era então orientação do Partido, Dinis Miranda respondeu aos esbirros do tribunal fascista que o julgou em 1968.
Com 39 anos de idade na altura da sua última prisão, preso quatro vezes antes de 1967, este operário agrícola natural de Montoito, concelho de Borba, aderiu ao Partido com 17 anos de idade, aos 30 anos passou a funcionário do Partido e, mais tarde, em 1967, membro do seu Comité Central e, em 1976, membro da Comissão Política do CC.
As centenas de camaradas que o homenagearam na sua terra natal, no passado dia 21, puderam ouvir intervenções emocionais de quem com ele conviveu de perto, no momento da inauguração de uma exposição alusiva ao revolucionário, que esteve patente na casa que era de seus pais (exposição que apesar da sua pequena dimensão, pela exiguidade do espaço, tinha uma rara qualidade e era demonstrativa da capacidade criativa do colectivo partidário).
Na inauguração da exposição, Silas Cerqueira, com voz entrecortada pela emoção, destacou as qualidades de revolucionário e humanas de Dinis Miranda, o mesmo acontecendo com a intervenção da camarada Edviges, de Baleizão.
Nesta quente tarde de sábado vários ranchos estiveram presentes: foi o caso do Grupo Coral Feminino do Baleizão, do Grupo Coral dos Mineiros de Aljustrel, do Grupo Coral de Montoito e a Banda da Sociedade Filarmónica Montoitense.
Companheiros de luta de Diniz Miranda, vindos de longe - de que não cito nomes com receio de falhar um ou outro - fizeram questão de estar presentes e outros ainda mandaram saudações.

Um filho do proletariado agrícola alentejano

Na tribuna do comício, para além da companheira de Diniz Miranda e das suas filhas, estavam, entre outros, António Gervásio, João Pauzinho, do Comité Central e responsável pela organização do distrito de Évora do PCP, Abílio Fernandes, da Comissão Central de Controlo, José Catalino, da Comissão Política, e Luísa Araújo, do Secretariado e da Comissão Política.
«Quando estamos aqui nesta justa homenagem a Dinis Miranda, não estamos apenas a recordar o amigo; estamos também a manifestar os nossos profundos sentimentos de camaradagem a um prestigiado e destacado resistente antifascista, da luta sem tréguas contra o fascismo, da luta constante pela Liberdade e pela Democracia», afirmou António Gervásio que com ele trabalhou, com ele esteve preso em Peniche e com ele foi libertado pela aurora do 25 de Abril.
José Catalino abordou, na sua intervenção, vários aspectos da situação actual num enquadramento que tinha como figura central o exemplo de Dinis Miranda, exortando-nos «a seguir o seu exemplo combativo, a sua luta revolucionária, o seu exemplo de modéstia e dedicação ao seu povo, ao seu país e ao seu Partido».
Sobre Abril que agora comemoramos, afirmou:
«Comemorar Abril é comemorar as suas principais conquistas, onde a Reforma Agrária ocupa e ocupará sempre na historia da nossa revolução um lugar muito especial. Ela foi, também e por todo o seu significado, o alvo principal da raiva da contra-revolução. Ao assinalarmos os 33 anos da Revolução de Abril e ao homenagearmos Dinis Miranda estamos a dar particular significado à luta daqueles que 33 anos depois se mantêm determinados em defender e cumprir Abril, confiantes na luta e acção transformadora dos trabalhadores e do povo português e que sonham com um país mais justo, livre, soberano, democrático e socialista.»

Tenta-se branquear o fascismo

José Catalino denunciou vigorosamente o que foi a ditadura terrorista dos monopólios até ao 25 de Abril e que hoje «a viragem à direita que há longos anos ensombra e combate o Portugal de Abril tem, sob múltiplas formas e meios, procurado ocultar e branquear esta realidade».
A operação que no nosso País se desenvolve em torno da figura de Salazar é a mais ambiciosa até agora empreendida no sentido do branqueamento do regime fascista, de falsificação do papel histórico do seu principal responsável, de apologia e justificação da sua acção, de valorização da sua personalidade e obra, de que foi exemplo o concurso da RTP – continuou –, que permitiu também o desenvolvimento de uma linha ainda mais sórdida: a da semelhança e da simetria entre as figuras de Salazar e de Álvaro Cunhal. O que se pretendeu, como afirmou Jerónimo de Sousa, foi fazer equivaler o ditador fascista e o resistente heróico; o torturador e o torturado; o carrasco e a vítima; o traidor dos interesses da Pátria e o patriota exemplar; o opressor do povo e o que dedicou toda a sua vida à luta pela libertação desse povo da opressão e da exploração.»
Espontaneamente e em uníssono as muitas centenas de camaradas reafirmavam o seu apego a Abril e a férrea vontade de o defender. «Vinte cinco de Abril sempre, fascismo nunca mais, vinte cinco de Abril…», gritávamos.

A política do PS e a luta necessária

Sobre a actual situação política, o camarada José Catalino denunciou a política do PS «que todos os dias contraria o projecto constitucional. Uma política que na sua natureza nega os valores e objectivos da revolução de Abril e que na sua aplicação prática persegue o caminho da destruição desses mesmos direitos e da reconstituição dos privilégios e do poder dos monopólios».
Referindo-se à Greve Geral aprazada para 30 de Maio, afirmou «a necessidade de elevar a luta de massas para patamares superiores, exigindo a mudança de políticas por parte do Governo. É uma importante oportunidade, à qual o nosso colectivo partidário é desde já chamado a intervir».
«Ontem como hoje é pela luta e intervenção que se afirmará a vontade e determinação dos trabalhadores e do povo em defender e afirmar as conquistas e direitos da Revolução de Abril.»
José Catalino lembrou a intervenção feita em Évora em 1990, aquando do falecimento de Dinis Miranda, pelo saudoso camarada Álvaro Cunhal, quando este afirmou: «os comunista não são comunistas para satisfazerem ambições, nem interesses pessoais, nem proventos, nem privilégios. Se alguém no Partido é movido por tais motivações acaba mais cedo ou mais tarde por afastar-se ou ser afastado. Os comunistas são comunistas porque têm um ideal libertador, uma conduta revolucionária, porque consideram a acção politica, não como uma forma de com a politica se servirem a si próprios ou quaisquer clientelas, mas como forma de, com a politica, servirem os trabalhadores, servirem o povo, servirem o País.»
José Catalino não poderia ter escolhido citação mais apropriada, para terminar o comício de homenagem ao digno filho do proletariado alentejano, ao comunista, ao Homem, a Dinis Miranda.
Do comício todos desfilámos por Montoito até à exposição com a qual comecei este relato, usando desta grande possibilidade que nos dá a escrita – a de viajarmos no tempo.


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